domingo, 4 de setembro de 2011

Supondo o errado

“Suponhamos que eu seja uma criatura forte, o que não é verdade.
Suponhamos que ao tomar uma resolução eu a mantenha, o que não é verdade.
Suponhamos que eu escreva um dia alguma coisa que desnude um pouco a alma humana, o que não é verdade.
Suponhamos que eu tenha sempre o rosto sério que vislumbro de repente no espelho ao lavar as mãos, o que não é verdade.
Suponhamos que as pessoas que eu amo sejam felizes, o que não é verdade.
Suponhamos que eu tenha menos defeitos graves do que tenho, o que não é verdade.
Suponhamos que baste uma flor bonita para me deixar iluminada, o que não é verdade.
Suponhamos que eu esteja sorrindo logo hoje que não é dia de eu sorrir, o que não é verdade. 
Suponhamos que entre os meus defeitos haja muitas qualidades, o que não é verdade.
Suponhamos que eu nunca minta, o que não é verdade.
Suponhamos que um dia eu possa ser outra pessoa e mude de modo de ser, o que não é verdade."

Clarice Lispector

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